O seguinte artigo olhará para aspectos chave de criptomoedas, finanças descentralizadas (DeFi, em inglês), economia de token e o caminho do Protocolo Ergo. Para o primeiro episódio da série Ergo & Blockchain, por favor veja Ergo & Blockchain: ‘Criptosfera’.
Cripto, Blockchain e Finanças
A Criptosfera depende da tecnologia de livro de registros distribuído para manter dados relevantes na blockchain. O banco de dados descentralizado consiste de nós que carregam informações, como quantidade de carteiras, tokens, nós, e a função de contratos específicos armazenados na blockchain. Com uma maior aceitação de (DeFi), é importante estar preparado para uma novo design econômico funcional.
Quando Satoshi Nakamoto criou algo novo (Bitcoin) em oposição às instituições financeiras tradicionais, pensava-se que era um projeto de lazer de um desenvolvedor anônimo. Frequentemente pensava-se ser uma piada ou um golpe iniciado para tomar o dinheiro de pessoas. Hoje em dia a Bitcoin é reconhecida como moeda corrente e está ganhando aceitação dentre instituições financeiras. O que antes era pensado como “dinheiro criado do nada”, hoje se tornou algo que toca cada vez mais o nosso dia-a-dia.
A relevância disso se dá pelo fato de a moeda, na forma de dados, é lastreada pelo poder computacional, que por sua vez é o resultado do funcionamento de eletricidade e equipamento de mineração. Os usuários pagam taxas de comissão para mineradores para verificação de transações e mineradores ganham recompensas extra do protocolo para prover segurança. Isto é chamado de modelo consensual de Prova de Trabalho (PoW, sigla em inglês), no qual Bitcoin, Ethereum e Monero são construídos. Outro modelo é chamado de Prova de Participação (PoS, sigla em inglês). Em PoS, o consenso é decidido pela quantia de tokens delegados e não pelo poder de cálculo de hash dos mineradores. Existem diferentes atores (Minerador / Delegador) e vetores de ataque (ataques de 51/66/33%) que esses dois principais modelos de consenso representam.
Modelos de Lançamento PoW e PoS
Como um pioneiro dos sistemas PoW, o Bitcoin não teve uma oferta inicial de moedas (ICO, sigla em inglês), mas sim teve um lançamento justo, onde qualquer um poderia minerar o token com seu computador. Ethereum, por outro lado, pré-minerou certas quantias (de moedas) para sua equipe e para o financiamento do ecossistema, e conduziu um ICO antes do começo da mineração. Ambos modelos de lançamentos tem diferentes características em termos de seus alocadores. Em PoS, a fundação detém a grande maioria dos fundos na fase de lançamento e investidores podem obter moedas no ICO ou comprá-las em mercados secundários. Podem ainda haver rodadas de pré-venda que são abertas principalmente para Investidores de Risco (VC, sigla em inglês). Em PoW, a única forma de conseguir moedas é por mineração ou por compra em mercados secundários.
Ergo escolheu o modelo PoW com um lançamento justo e projetou uma alocação de tesouro para desenvolvimento do ecossistema como uma porção das recompensas por bloco. Ao invés de oferecer uma alocação pré-minerada, o Protocolo Ergo alocou 7,5 ERG para cada recompensa de 75 ERG por bloco como alocação de Tesouro pelos primeiros dois anos. A alocação de Tesouro então cai para zero nos seis meses seguintes. Esse plano rendeu ao tesouro 4,33 milhões de ERGs, o que representa 4,43% da oferta total de 97 milhões de ERG. Essa alocação foi instituída para dar suporte ao desenvolvimento inicial do ecossistema, onde os fundos são liberados gradualmente durante o desenvolvimento do projeto. Ergo foi lançada em Julho de 2019, então sua taxa de emissão já começou a declinar desde Julho passado.
No modelo PoS de lançamento, há frequentemente uma certa quantia alocada para a fundação / equipe de desenvolvedores e geralmente também há uma alocação para VCs em pré-venda. Essas alocações podem ser ou transferidas linearmente ou destravadas no momento do lançamento, e os investidores podem conseguir moedas em um ICO ou mercados secundários. Como essas proporções de alocação podem chegar a ser maior que 50% em alguns casos, o núcleo de desenvolvedores possui boa parte da liquidez em suas mãos e, portanto, o poder de movimentar mercados em suas fases iniciais. Dado que os preços em ICOs são usualmente bem maiores que o valor do token em rodadas de pré-venda, os pequenos investidores estarão sempre em posições de desvantagem em relação a VCs.
Temos abaixo um infográfico que mostra uma comparação entre alocações iniciais de tokens de projetos PoS:
autor: tortodelivery
Economia de Token
Economia de Token, ou Tokenomics, é um fator-chave que separa criptomoedas de moedas fiduciárias. Políticas monetárias tradicionais sãom definidas por instituições e estão sempre sujeitas a mudanças pelas mesmas instituições. Por outro lado, tokenomics são escritas numa blockchain e não podem ser alteradas sem atingir um consenso na comunidade.
Moedas fiduciárias são emitidas por bancos centrais e sua circulação é controlada por essas entidades centralizadas. Como você pode imaginar, isso era necessário para prevenir fraudes e prover autenticidade para as transações financeiras. Com a tecnologia de livro de registros distribuído, a autenticidade passa a ser responsabilidade dos nós descentralizados e as transações são verificáveis em um livro de registros público. Bitcoin não precisa de terceiros para provar que as transações na blockchain aconteceram nem precisa de uma entidade central para governar sua política monetária.
Junto com a criação do Bitcoin, um novo sistema monetário foi criado com um teto de 21 milhões de moedas e uma emissão deflacionária que dura 140 anos em um ritmo previsível. A emissão de Bitcoins tem uma meia-vida de 4 (quatro) anos, reduzindo as recompensas por bloco que mineradores coletam. Inicialmente, as recompensas por bloco eram de 50 BTC. Agora, elas foram reduzidas a 6.25 após o halving de 2020. Atualmente, 18.6 milhões de Bitcoins já foram mineradas. Isso significa que 88% da oferta total já está em circulação após 13 anos.
Algumas criptomoedas, como Ethereum ou Monero, não possuem um limite superior para sua oferta total, mas sim possuem um ritmo de emissão de moedas decrescente e previsível. De acordo com dados atuais, taxas de emissão para Ethereum e Monero são de 0.54% e 0.96%, respectivamente. Podemos calcular a taxa de emissão para os próximos 10 ou 50 anos para prever a inflação futura de acordo com esse ritmo de emissão. Você pode acessar as taxas de inflação de vários projetos em Messari, na página de métricas.
Em projetos PoS onde VCs possuem uma vantagem inicial, inevitavelmente a maior delegação se torna ainda maior. VCs podem acumular grandes quantidades de moedas na fase de pré-venda por preços baratos e podem começar a despejar suas moedas por preços maiores em outros investidores já durante o ICO. Se eles decidirem continuar com a posse dos tokens, eles podem controlar a governança daquela blockchain no futuro. Por consenso depender da quantidade de tokens delegados, a maior parte da oferta de moedas em circulação será ilíquida e controlada por grandes atores do mercado.
A oferta de Ergo tem um limite superior de 97 milhões de ERGs, que serão emitidas em 8 anos. O cronograma de emissão pode parecer agressivo, mas devemos notar que 80% da oferta total de Bitcoin já foi emitida nos seus primeiros 8 anos, e 88% está em circulação atualmente. A oferta de ERG em circulação é de 45 milhões, representando 46% da oferta total. O resto da emissão acontecerá nos próximos seis anos, antes que as recompensas pelo consenso PoW decaiam a zero. A partir desse ponto, Aluguel de Armazenamento e taxas de transação pagas pelos usuários proverão incentivos econômicos para mineradores.
O Protocolo Ergo oferece um incentivo econômico diferente para seus mineradores, chamado Aluguel de Armazenamento. A componente de aluguel de armazenamento é uma proposta para erradicar da blockchain bytes não utilizados (poeira). A cada quatro anos, os usuários terão que pagar 0,13 ERGs por UTXOs não utilizados. Moedas não utilizadas ou perdidas serão mineráveis de novo e eventualmente entrarão de volta em circulação. Esse é um comprometimento para garantir fluxo de caixa no futuro e criar uma criptoeconomia mais líquida. Os usuários podem simplesmente movimentar suas moedas a cada quatro anos para evitar pagar aluguel de armazenamento desnecessário.
Transformação Social
Tecnologia blockchain e desenvolvimento de contratos inteligentes estão se movendo em um ritmo acelerado. Estamos vendo novas leis serem aprovadas mundialmente, instituições financeiras começam a alocar criptomoedas em seus portfólios e, recentemente, a SEC (equivalente à CVM nos EUA) aprovou a criação do primeiro ETF de Bitcoin na NASDAQ. Ainda assim, existe uma forte oposição a institucionalização de Bitcoin e criptomoedas. Quem terá o controle dos fundos no futuro? Criptomoedas podem realmente se tornar uma ferramenta para pessoas comuns contra entidades centralizadas?
Enquanto Moedas Digitais de Banco Central (CBDC, sigla em inglês) estão no horizonte, uma escolha vital se aproxima rapidamente. Como reguladores se comportarão no que diz respeito aos direitos de propriedade e privacidade? Blockchains e criptomoedas se tornarão a ferramenta fundamental para espionagem social?
Fique de olho do próximo capítulo da nossa série de artigos: “Ergo & Blockchain: Privacidade e Segurança”.